Artigo

Minhas muitas vidas

Por Evoti Leal - Barbeiro e escritor

Vocês já pararam pra pensar que vivemos várias vidas em apenas uma vida neste mundo?

Em como a gente muda de vida de uma hora para outra, vivendo hoje uma vida bem diferente da que vivíamos ontem, podendo amanhã estarmos vivendo outra vida completamente nova, absolutamente desigual, em relação à que vivemos ontem e hoje?

Sim. Senão, vejam só estes exemplos:

Quando eu era bebê, vivi uma vida da qual já nem lembro quase nada.

Quando criança, dessa vida guardo ainda muitas lembranças, vivi numa casa com meus pais e meus irmãos, em Porto Alegre. Fui estudar em uma escola que ficava a alguns quarteirões de onde residíamos. Depois, passei pra outra escola, construída de frente para os fundos do nosso quintal. Ali completei o primeiro ciclo, o primário, hoje chamado fundamental.

Comecei uma nova vida, diferente em tudo das anteriores, quando fui para o Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Pegava bonde e gostava de viajar na porta, pés no estribo e pendurado em um pega-mão. Naquele tempo isso era permitido e as quatro portas dos bondes eram abertas. Gazeava aulas. Reprovei duas vezes. Então passei a viver outra nova vida, ao me transferir para o Colégio Estadual Inácio Montanha, fazendo todo o ginásio no horário noturno, das 19h30min às 23h. Pegava ônibus lotado e chegava em casa meia-noite e pouco. Minha mãe apanhava sereno, me esperando no portão. Assim vivi a juventude.

Aos 18 anos, dispensado do serviço militar, ainda estudando naquele educandário à noite, comecei a namorar, vivendo outro tipo de vida. Fui procurar um emprego; terminei o primeiro científico e parei. Fui trabalhar e me casei; e outra vida começou ali. Veio o primeiro filho e mudou de novo a vida pra mim.

Algum tempo depois, nova vida se me apresentaria, com a separação conjugal e um novo amor, com quem vivi, desde então, outras tantas vidas. Sim, porque foram mais cinco filhos e muitos netos, cada qual me conduzindo para uma vida que nunca antes houvera vivido. Porto Alegre, São Paulo, Pelotas... Antônio Prado, Pelotas, de novo... Curitiba e, mais uma vez, Pelotas. Quantas mudanças de vida!

Isso tudo, fora os tantos detalhes de tantas outras vidas que vivi nesse meio tempo. Os empregos em funções diferentes; a vida de barbeiro; uma breve vida como padeiro; outra como comerciante.

Garanto a vocês que, nestes 75 de vida, já vivi mais de 50 vidas, apenas nesta vida!

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